segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MAIS UM DEBATE SEM CONTEÚDO

Ontem a Rede Record de Televisão, apresentou um debate entre a candidata Dilma do PT e o candidato Aécio Neves do PSDB, que disputam o segundo turno da eleição para presidente da república do Brasil. O cargo que ambos disputam é o mais alto do país e envolve o gerenciamento do destino de mais de 200 milhões de pessoas, os brasileiros que aguardam ansiosamente por um futuro seguro para si e para os seus descendentes.
Os candidatos debateram, como sempre vêm fazendo, de modo que um busca desmerecer as virtudes do outro, como se os defeitos do adversário pudessem ser transformados em virtudes suas. A Dilma parece ter aceito a tática desagradável do Aécio, e a desconstrução dos adversários virou tema principal nos debates. O cenário mostra um certo desrespeito ao eleitor que terá que escolher entre o ruim e o pior, já que essa é a lógica que predomina na disputa. Quando o Aécio fala em corrupção do PT a Dilma lembra dos desvios dos governos tucanos fazendo com que o eleitor tenha que escolher o menos corrupto. Quando a Dilma fala em saúde ao invés de mostrar com números e dados as conquistas do seu governo, prefere mostrar os desvios de verbas da saúde no governo do Aécio em Mina Gerais.
O Aécio critica a deterioração da Petrobrás e a Dilma fala na intenção dos tucanos em privatizar a empresa quando eles governavam.
O ideal seria que cada candidato mostrasse aos eleitores as qualidades de suas possíveis equipes de governo, os projetos sobre educação, não somente com promessas vazias de melhorar o ensino, ou de aumentar os períodos de permanência das crianças na escola. Ficar por mais tempo dentro da escola não significa que o resultado possa ser melhor no que diz respeito ao aprendizado. Permanecer mais tempo em um sistema que não consegue ensinar, pode significar chover no molhado e aumentar despesas sem resultado prático.
Todos sabem que o problema da educação é muito mais profundo do que apenas criar período integral. O sistema precisa ser revisto na sua concepção e redirecionado rumo à eficiência da sua gestão como um todo. Professor tem que ensinar e o aluno tem que aprender.
Sobre segurança citam números que nem são verdadeiros porque são manipulados segundo o interesse de cada candidato. Ofensas e recordações dos fracassos e sucessos passados, não mostram o caminho do futuro, mas parece que os dois candidatos não se prepararam para convencer o eleitor pelas suas virtudes.
No fundo, eles estão cravando na testa do eleitor brasileiro um carimbo de idiota, que vai acabar votando na proposta mais agressiva como se política fosse guerra de torcidas.
Nas ruas o que se ouve é gente comentando eleição como se falasse sobre clubes de futebol, uns achando que hora de mudar tudo e outros achando que mudar é arriscado, mas não se explicam as razões dessas opiniões.
A eleição de presidente da república está sendo tratada que nem aqueles programas de televisão de disputas entre homens e mulheres, dos bem idiotas que a cada resposta dizem: “pontos para os homens” ou então “ponto para as mulheres”.  Uma pobreza absoluta que não leva ninguém a lugar nenhum. Vamos decidir pelo mais agressivo ou pelo mais incisivo, e certamente continuaremos a assistir ao espetáculo da falta de clareza das tendências de cada candidato, que sequer fala dos seus partidos. A Dilma não faz referência ao PT, mas a si mesma quando diz: "no meu governo" e, o Aécio se diz candidato de uma aliança para salvar o Brasil, e nega a se referir ao PSDB. Isso é importante porque o PT é o partido de origem trabalhadora e o PSDB tem suas vocações para o empresariado e a moeda. O Lula falava mais da pobreza e das diferenças sociais, do que a Dilma tem falado, talvez com medo de perder votos da elite. O Aécio quer conquistar votos dos trabalhadores e por isso ignora o seu partido o PSDB. O Lula tem aparecido na campanha do PT, mas o FHC não comparece na campanha do PSDB. Ou seja, a disputa agora é de uma pessoa contra outra pessoa sem nada de conteúdo ideológico ou partidário. É a Dilma contra o Aécio, que são mortais e podem nem tomar posse como aconteceu com o Tancredo. Personalizaram a disputa para esconderem as vocações de seus grupos de apoios e de interesses. O certo seria mostrarem as diferenças entre um governo social vocacionado às pessoas, e um governo material que cuida mais da economia e do empresariado.
Economia é ciência, e bem poderia cada candidato apresentar números e dados sobre as suas ações no plano econômico, e quem deveria apresentar os números seria os economistas que vão operar o sistema. Assim deveria ser nos debates sobre educação, com especialistas em educação de um lado e do outro mostrando soluções técnicas para o grave problema da falta de aprendizado. Na saúde, não basta dizer que vai melhorar a saúde, mas deveriam os candidatos se fazerem acompanhar de especialistas em saúde que demonstrassem de que modo vão melhorar e em quais pontos serão atacadas as deficiências da saúde. Candidato não entende de tudo e por isso não pode pretender dominar sozinho todas a situações dos debates. Isso prejudica o melhor discernimento do eleitor.
Fica claro que debates em que somente os candidatos falam um amontoado de coisas sem profundidade alguma e sobre todos os assuntos, não são suficientes para esclarecer o eleitor que melhor entenderia a exibição de dados e projetos detalhados sobre cada tema.
Durante a copa do mundo, a televisão ficou tempo integral falando de futebol, como se futebol fosse mais importante do que a escolha do presidente da república, e hoje dedica alguns minutos por dia ao assunto eleições. A escolha de presidente deveria ser muito mais esmiuçada nos meios de comunicação, porque dez minutos para cada um, e de vez em quando, não é tempo suficiente para que as pessoas possam conhecer os projetos dos candidatos. Verdade que o assunto não é agradável aos ouvidos da maioria das pessoas, mas a importância do assunto merece maior oportunidade para que os eleitores conheçam, não somente o nível de agressividade dos candidatos, mas as suas equipes de governo e os métodos de solução a que se propõem.
Do jeito que está sendo conduzido o uso da televisão e do rádio, a Dilma está chata e repetitiva e o Aécio enjoado, sem que o eleitor tenha tido a oportunidade de concluir com segurança sobre a melhor opção.
A escolha vai ocorrer pela audácia, pela simpatia pessoal ou antipatia, pela capacidade de se apresentar melhor na mídia, enfim por fatores que não garantem ao eleitor uma certa segurança na sua escolha do melhor programa de governo.

João Lúcio Teixeira 

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