Em um dia dessas ouvi uma
entrevista do presidente da câmara federal do Brasil, em que ele disse que a
corrupção não está no poder legislativo, mas sim no poder executivo, ou seja,
corruptos não são os deputados, mas a presidência da república. Foi o que ele falou
sem o menor pudor, no intuito de defender os seus colegas deputados que o
escolheram para presidir a casa legislativa. A isso se dá o nome de
corporativismo.
Em uma emissora de rádio da
capital paulista ouviu-se uma entrevista do prefeito de Caraguatatuba em que
ele disse que a culpa dessa epidemia de dengue na cidade, é do governo federal
que centraliza a maior parte dos recursos público e não repassa dinheiro
suficiente, o que impede os municípios de realizarem melhores políticas de saúde.
Falou ainda que criar ministérios não resolve os problemas dos municípios, em
um discurso ensaiado pelas oposições ao governo Dilma, dando a entender que o
governo federal gasta muito porque tem muitos ministérios, o que pode mesmo ser
verdade, já que há ministros demais, mas não se pode afirmar que esse seja o
motivo de tanta dengue em Caraguá. Já houve até ministro que estava em pasta
errada por indicação do próprio partido a que ele mesmo pertence, como o ministro
dos esportes que nunca praticou esporte algum, ministro da educação sem
educação, que xingava os outros de forma desequilibrada, e assim vai. O prefeito de Caraguá quer atribuir ao governo federal a
responsabilidade pela epidemia de dengue de Caraguatatuba.
Ai eu pensei que se ele tivesse
economizado o monte de dinheiro que gastou colocando mármore em mais de cinco
quilômetros da mureta da avenida da praia, teria dinheiro para combater a
dengue e a população não estaria nessa penúria de mais de mil casos de dengue
numa cidade de cem mil habitantes, se o limite aceitável seria 300 casos para
cem mil habitantes. Gastou dinheiro em obra desnecessária e agora a culpa é da
Dilma. Construiu uma praça de eventos com um monte de dinheiro público que vai
ficar abandonada até a próxima temporada de verão, e o mesmo dinheiro serviria
para combater a dengue, reformar as dependências do hospital e devolver pra lá
o pronto socorro que é uma verdadeira carnificina, e o pronto atendimento que,
com essa gestão ineficiente, não dá conta de atender a tantos doentes de
dengue, e mais os outros doentes da cidade. A UPA do prefeito está parecendo os
trens de subúrbio das grandes cidades às seis da tarde. Uma verdadeira lata de
sardinha.
Fica fácil atribuir aos outros a
culpa do próprio fracasso, porque assim parece que o fardo da culpa fica mais
leve. A Dilma carrega um pouco, o prefeito carrega o outro e isso pode dar a
ele um certo conforto e reduzir a sua sensação de culpa, se é que tem
sensibilidade suficiente para se sentir culpado.
O prefeito não culpou o governo
do estado que é do seu partido, por essa “calamidade pública” que ele mesmo decretou
para ter condições de contratar empresas e pessoas sem concurso e nem
licitação, e isso também pode lhe render enormes aborrecimentos no futuro,
quando esses atos forem fiscalizados, principalmente se houver contratação de
empresa de parentes de “colaboradores” seus, ou de amigos.
A verdade é que as prefeituras do
litoral são um mundo de incompetências gerenciais, que gastam tudo o que
arrecadam em obras, às vezes desnecessárias, e não investem no ser humano que
vive nessas cidades. Parece que as obras de cimento e mármore são mais
importantes do que as pessoas.
Ainda assim, há de se admitir que
os mandatários dessas cidades, ainda que incompetentes em alguns casos,
principalmente na maioria das escolhas dos gastos de recursos públicos, foram
eleitos pelo voto secreto e direto dos seus moradores. Portanto, estão
absolutamente legitimados nos cargos que ocupam. A democracia é assim, e as
minorias precisam conviver com as decisões das maiorias que escolhem livremente
os seus governantes. Se admitirmos que o povo está errado é melhor mudar de
país, porque democracia é o poder nas mãos da maioria. Os governos que temos
são exatamente o resultado da qualidade do nosso voto, e não importa se você
votou na Dilma, ou no Antônio Carlos ou no Geraldo. O que importa é que você
está sendo legalmente governado por eles e, quanto a legitimidade deles no
poder não se pode discutir. O que se pode é aceitar a possibilidade de ter
errado na escolha e prometer que nas próximas eleições vai votar melhor e
escolher governantes comprometidos com a evolução das pessoas e não somente das
obras de cimento com placas de inauguração.
Eles dizem que estão preparando as
cidades para o futuro, mas talvez nem haja futuro para um monte de gente que
não tem acesso a uma saúde decente, a uma escola decente, a uma segurança
decente, e que talvez morra de dengue antes do futuro chegar.
Durma-se com um barulho desses.
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