Pela primeira vez, Lula encara o tema e não descarta a possibilidade de
voltar a disputar a eleição presidencial de 2018.
É um fato notório que Lula intensificou e mudou a agenda para voltar ao cenário,
com força e vontade, em um dos momentos mais conturbados do processo político.
Cabe perfeitamente nesta nova rotina do ex-presidente o discurso feito em 1º de
Maio, no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, quando jogou no ar duas
afirmações capazes não só de intrigar os eleitores em geral, animar os
“queremistas” em particular, como também de deixar a oposição pálida de espanto.
Inicialmente, o valente metalúrgico emergido das históricas jornadas de
greves no fim dos anos 1970 insinuou: “Não me chame para a briga, que eu sou
bom de briga. Não tenho intenção de ser candidato, mas gosto de brigar”.
Posteriormente, com a voz mais inflamada, afirmou: “Eu volto. Está aceito o
desafio”.
Não parece apenas um jogo verbal de palanque com irônico conteúdo. Pela
primeira vez, de público ao menos, Lula encara o tema e não descarta a
possibilidade de voltar a disputar a eleição presidencial de 2018. Faz sentido
o que ele disse? Sim. Há razões fortes para acreditar no retorno de Lula à
peleja. Suas palavras não soaram somente como ameaça e, por isso, tem se
mantido como alvo preferencial da mídia conservadora.
Lula precisa proteger a cria. O Partido dos Trabalhadores atravessa uma
crise brutal, a partir das confusões em que se meteu. Fragilizado, sofre
ataques pesados dos adversários e, eventualmente, de certos aliados.
Os petistas estão sendo caçados. Os desacertos partidários, estimulados
pelo ódio de classe, favorecem isso. Só a força singular do ex-presidente pode
resgatar o PT e restabelecer as virtudes de uma agremiação que completa 25 anos
de vida.
A pesquisa Datafolha de meados de abril tem informações importantes
em torno da eleição. Apesar do fogo pesado que sofre, se o pleito fosse hoje,
Lula teria 29% das intenções de voto. Quase um empate técnico com Aécio Neves,
com 33%.
Mas há outro reforço para o potencial eleitoral do ex-presidente. Na
resposta à pergunta sobre o melhor presidente do Brasil, ele tem vantagem
folgada sobre FHC. A sondagem indicou outra incômoda resposta: Getúlio Vargas
(1883-1954), quase 60 anos após a morte, mantém honrosos 6% (tabela).
Lula e Vargas são bons vinhos da mesma pipa.
Com esse capital, Lula não pode pensar em simplesmente ir para
casa, após Dilma cumprir mais quatro anos de mandato. Além dele, não há
alternativa nos quadros do PT, considerando, principalmente, a conjuntura
adversa. Alguém pode apontar um só outro nome consistente, capaz de bom
desempenho no confronto eleitoral com a direita?
Lula aposta que, em 2018, a economia estará recuperada. Esse seria fator
fundamental. A recuperação é tão essencial como o conselho de Maquiavel ao
Príncipe: se tiver de fazer o mal, deve fazê-lo de uma só vez.
É o caso do controvertido ajuste fiscal?
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