Certa feita, eu fiz uma análise despretensiosa
sobre o possível desgaste do PT no exercício do poder central brasileiro, e
vaticinei algo parecido com a situação atual da nossa realidade política. O
fato é que nenhum partido resistirá no poder com essa forma de se fazer
política com o tal “toma lá dê cá”.
A ideia de estado implantada no
Brasil é a mais correta possível se vista do lado da simples teoria de estado,
onde os três poderes, executivo, legislativo e judiciário têm funções
teoricamente bem definidas, mas que na prática não são nem de longe observadas.
O executivo que é exercido pelo prefeito, governador e presidente da república,
tem a função de receber um montão de dinheiro de impostos e taxas, além de outras
formas de contribuição, e com esses recursos construir o futuro da nação. Do outro
lado, o poder legislativo que é exercido pelos vereadores, deputados e
senadores, tem como funções mais importantes a fiscalização politico-administrativa
do poder executivo para que não haja malversação das verbas públicas, e de
fazer as leis que todos deverão respeitar. Resta ao poder judiciário garantir o
respeito às leis que o poder legislativo tenha aprovado, fazendo com que os
descumprimentos sejam punidos, ou com prisões nos casos de crimes e na esfera
civil as reparações de prejuízos injustos, sejam eles de ordem pública como
particular.
Se essas três instituições
cumprissem com zelo e eficiência as suas missões o país, certamente, estaria em
equilíbrio, com seus criminosos presos, corruptos fora da política e o povo
estaria recebendo a restituição dos seus impostos em forma de serviços e obras
de boa qualidade.
Quando todos esses agentes ocupam
os seus cargos começa a tal da “convivência conivente” que fecha olhos e
ouvidos diante das barbaridades que são observadas em todos os cantos do país, ao
invés da convivência harmônica e respeitosa, pregada pela constituição federal,
que manda que os poderes se respeitem, mas não manda que se permita a histórica
impunidade que causa prejuízos incalculáveis à nação.
O PT no poder central do Brasil
foi um voto de esperança dado pelo povo a uma nova possível forma de gestão. O
Lula teve um desempenho que agradou a maioria do povo brasileiro, com práticas
orientadas ao combate às diferenças sociais e redução da pobreza. Saiu bem
avaliado depois de cumprir oito anos de mandato, e indicou a Dilma para
prosseguir a obra petista. Se o Lula gozava de grande popularidade até entre
classe menos ricas, a Dilma não tem conseguido apoios populares suficientes
para sustentação de seu governo e o povo parece sentir-se como algum marido
traído que odeia a sua própria história de vida. A presidente não consegue
estar em nenhum local público sem que as vaias apareçam, e mesmo que alguns
digam que essas manifestações são de autoria de ricos ou “burgueses” elas são
uma realidade que incomoda e torna difícil o aparecimento público da senhora presidente.
O mais recente acontecimento foi
em uma cerimônia de casamento em que a festa foi prejudicada pelo panelaço
ainda que feito por cerca de trinta pessoas. O constrangimento é inevitável e
se fosse em outras épocas, certamente as forças armadas estariam fazendo cessar
essas formas de manifestações. A Dilma não tem conseguido tranquilidade em
nenhum local que não seja o palácio de onde governa o país tal qual um urso hibernado.
O efeito de tudo isso, respinga
no Lula que no último dia 1º de maio discursou para o menor número de pessoas da
história recente no vale do Anhangabaú, e sentiu que a sua imagem antes
festejada já sente as perdas causadas pela atuação da Dilma no governo. Na
festa do trabalhador não se viu a Dilma, nem o Haddad, e nem outras figuras
importantes que sempre perfilavam junto ao Lula.
A conclusão que se pode abstrair
desta nebulosa situação é que o povo já não suporta a ideia de que política
seja a troca de favores, que tem como objeto de negociação os recursos públicos
advindos dos tributos pagos pelo povo, que ao invés de servir para construir um
futuro melhor, na segurança, educação, cultura, saúde, serve para atender a
politicagem inescrupulosa de deputados e vereadores ou senadores. O povo já não
aceita qualquer presença de governante nas ruas ou em locais públicos e isso dá
pra ver com prefeitos e vereadores que vivem escondidos do povo e só aparecem
onde haja segurança abundante.
A solução desse caos nacional pode
advir de possível melhoria na qualidade do voto. O povo tem que começar de zero
e a oportunidade é o voto direto que nas próximas eleições vai eleger prefeitos
e vereadores em todo o Brasil. Se os eleitores votarem em pessoas politicamente
melhores, o futuro poderá ser promissor porque os prefeitos e vereadores serão
os futuros deputados, governadores e presidentes da república. Se continuarem a
vender voto, votar no mais bonito, no mais rico, no mais esperto, e em pessoas
que portam graves defeitos de caráter, a história não vai mudar e a nação
brasileira vai seguir sofrendo os efeitos do seu próprio voto.
A Dilma não inventou a corrupção,
mas está governando um país corrupto da cabeça aos pés, e não tem forças para
devolver a esperança do povo que se reduz a cada dia diante da televisão e de
outras mídias que só falam em corrupção e não estão mentindo. Quem olhar sem
paixões vai ver que se ela deixar o poder não há nada confiável para
substituí-la, e o país poderá ingressar em algum processo de conturbação social
cujo resultado final é inimaginável. Caso ocorra uma mudança extemporânea do
poder, o Brasil poderá até melhorar, mas poderá ficar muito pior do que já está
e, na incerteza o melhor é resolver a situação pelo voto nas próximas eleições,
“antes que algum aventureiro lance mão da coroa” e tenhamos que voltar aos
tempos do império. Note-se que se os políticos não são bons, ainda assim são o
melhor que o nosso voto foi capaz de escolher e a responsabilidade é somente
nossa e de mais ninguém.
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