Os movimentos populares precisam ser
entendidos e não combatidos de forma abrutalhada, já que são as manifestações
mais reais de indignação do povo contra fatores que lhes ameacem a
tranquilidade. As pessoas não vão às ruas em manifestações sociais, por mera
curiosidade ou por farra. A decisão de deixar a segurança e o sossego do lar,
para se envolver em manifestações contra governantes ou a favor de algo que
lhes pareça coletivamente interessante, é uma decisão de grande motivação
interna que pode estar dentro da alma de muitas outras pessoas, que poderão a
qualquer momento decidirem pela adesão junto aos outros indignados já em
atividade. Assim, pode-se imaginar que um movimento de rua de tamanho não muito
importante, poderá ser desestimulado e findo de maneira natural, ou também pode
ser que o movimento consiga sensibilizar outros cidadãos e tomar proporções
imensas e
incontroláveis. Movimento social pode não ser exatamente uma questão
de polícia, mas, geralmente, de políticas públicas, destinadas a satisfazerem
os anseios do povo que paga impostos e quer participar das decisões mais
importantes sobre a aplicação desses recursos.
Atualmente o movimento de rua que se
avista no Brasil, em grandes cidades, é promovido pela sigla que se auto
denomina "Passe Livre", que defende uma política de transporte
coletivo diferente do que se tem verificado na prática.
Hoje o movimento quer se fazer ouvir pelo
prefeito Haddad de São Paulo Capital que autorizou o aumento do valor das passagens
dos ônibus urbanos de R$3,50 para R$3,80, ocorrendo o mesmo em outras cidades.
O movimento entende que há possibilidades
de que o sistema de transporte seja democratizado de forma a atender interesses
sociais de pessoas que dele necessitam e que não dispõem de recursos para
suportar o custo das passagens.
Os prefeitos entendem que o aumento seja
necessário por conta da inflação que no ano passado, 2015, atingiu a 10,65%, e
segundo as autoridades é necessário repassar a inflação ao preço da passagem.
Matematicamente é correto o raciocínio, mas existe na contrapartida um
desemprego, uma desaceleração do mercado que envolve perdas ao trabalhador cujos
direitos não são tratados do mesmo jeito, ou com a mesma simplicidade
matemática. Será que as empresas de ônibus devem receber toda a inflação em
seus preços, mesmo que o trabalhador esteja em crise e não consiga pagar a
conta?
Há demissões de empregados, há negociações
salariais que visam a redução de salário e de jornada de trabalho, há enfim uma
série de pressões sobre a renda do trabalhador, em razão de uma crise, que se
ainda não é tão grave, causa redução na renda das famílias.
Transporte público é serviço público
operado por concessão por empresas privadas, mas não deixa de ser serviço
público de altíssima utilidade pública, que leva e traz o trabalhador ao
trabalho ou a outros compromissos que sem esse serviço não conseguiriam
alcançar.
Assim, fica evidente que essas questões
que tratam de interesses coletivos, não podem ser matematicamente tão simples
como mostram os cálculos de preços de tarifas públicas. Os aluguéis caíram de
valor, as vendas de bens duráveis sofrem queda em seus volumes, e as passagens
de ônibus segundo as contas dos governos municipais do Brasil, têm o direito a
reajuste ainda que o trabalhador não tenha recebido em seus orçamentos o mesmo
tratamento. Se há menos emprego, há menos renda na vida dos que usam o transporte
e seria justo que as passagens fossem até reduzidas de valor na mesma proporção
da capacidade de pagamento do usuário, e nunca aumentada simplesmente porque há
inflação.
O movimento popular que tem ido às ruas,
pode acabar recebendo novas adesões provocadas pela indignação de mais pessoas,
e depois poderá ser tarde demais para se tentar um diálogo com um povo em maior
quantidade e quem sabe, mais indignado.
O povo tem sempre razão porque é ele que
paga a conta e os governantes precisam cuidar melhor da relação com o povo que
o elegeu.
Em matéria de economia, digo com
autoridade de economista que sou, há sempre alguma conta possível de agradar a
todos, ainda que alguns tenham que transigir um pouco. Povo na rua é sempre
sinal de perigo social.
João Lúcio Teixeira
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