quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O POVO NAS RUAS É FATO A SER CONSIDERADO

Os movimentos populares precisam ser entendidos e não combatidos de forma abrutalhada, já que são as manifestações mais reais de indignação do povo contra fatores que lhes ameacem a tranquilidade. As pessoas não vão às ruas em manifestações sociais, por mera curiosidade ou por farra. A decisão de deixar a segurança e o sossego do lar, para se envolver em manifestações contra governantes ou a favor de algo que lhes pareça coletivamente interessante, é uma decisão de grande motivação interna que pode estar dentro da alma de muitas outras pessoas, que poderão a qualquer momento decidirem pela adesão junto aos outros indignados já em atividade. Assim, pode-se imaginar que um movimento de rua de tamanho não muito importante, poderá ser desestimulado e findo de maneira natural, ou também pode ser que o movimento consiga sensibilizar outros cidadãos e tomar proporções imensas e
incontroláveis. Movimento social pode não ser exatamente uma questão de polícia, mas, geralmente, de políticas públicas, destinadas a satisfazerem os anseios do povo que paga impostos e quer participar das decisões mais importantes sobre a aplicação desses recursos.
Atualmente o movimento de rua que se avista no Brasil, em grandes cidades, é promovido pela sigla que se auto denomina "Passe Livre", que defende uma política de transporte coletivo diferente do que se tem verificado na prática. 
Hoje o movimento quer se fazer ouvir pelo prefeito Haddad de São Paulo Capital que autorizou o aumento do valor das passagens dos ônibus urbanos de R$3,50 para R$3,80, ocorrendo o mesmo em outras cidades.
O movimento entende que há possibilidades de que o sistema de transporte seja democratizado de forma a atender interesses sociais de pessoas que dele necessitam e que não dispõem de recursos para suportar o custo das passagens.
Os prefeitos entendem que o aumento seja necessário por conta da inflação que no ano passado, 2015, atingiu a 10,65%, e segundo as autoridades é necessário repassar a inflação ao preço da passagem. Matematicamente é correto o raciocínio, mas existe na contrapartida um desemprego, uma desaceleração do mercado que envolve perdas ao trabalhador cujos direitos não são tratados do mesmo jeito, ou com a mesma simplicidade matemática. Será que as empresas de ônibus devem receber toda a inflação em seus preços, mesmo que o trabalhador esteja em crise e não consiga pagar a conta?
Há demissões de empregados, há negociações salariais que visam a redução de salário e de jornada de trabalho, há enfim uma série de pressões sobre a renda do trabalhador, em razão de uma crise, que se ainda não é tão grave, causa redução na renda das famílias.
Transporte público é serviço público operado por concessão por empresas privadas, mas não deixa de ser serviço público de altíssima utilidade pública, que leva e traz o trabalhador ao trabalho ou a outros compromissos que sem esse serviço não conseguiriam alcançar.
Assim, fica evidente que essas questões que tratam de interesses coletivos, não podem ser matematicamente tão simples como mostram os cálculos de preços de tarifas públicas. Os aluguéis caíram de valor, as vendas de bens duráveis sofrem queda em seus volumes, e as passagens de ônibus segundo as contas dos governos municipais do Brasil, têm o direito a reajuste ainda que o trabalhador não tenha recebido em seus orçamentos o mesmo tratamento. Se há menos emprego, há menos renda na vida dos que usam o transporte e seria justo que as passagens fossem até reduzidas de valor na mesma proporção da capacidade de pagamento do usuário, e nunca aumentada simplesmente porque há inflação. 
O movimento popular que tem ido às ruas, pode acabar recebendo novas adesões provocadas pela indignação de mais pessoas, e depois poderá ser tarde demais para se tentar um diálogo com um povo em maior quantidade e quem sabe, mais indignado.
O povo tem sempre razão porque é ele que paga a conta e os governantes precisam cuidar melhor da relação com o povo que o elegeu.
Em matéria de economia, digo com autoridade de economista que sou, há sempre alguma conta possível de agradar a todos, ainda que alguns tenham que transigir um pouco. Povo na rua é sempre sinal de perigo social.

João Lúcio Teixeira

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